sexta-feira, 29 de julho de 2011

Um granberyense ilustre - Itamar Franco

Faleceu no dia 2 de junho o Senador Itamar Augusto Cautiero Franco, que estudou no Granbery de 1935 a 1948 (cursos primário, ginasial e científico). Formou-se engenheiro civil e eletrotécnico em 1954 na Escola de Engenharia de Juiz de Fora.

Optando pela vida política, exerceu vários cargos na vida da República, inclusive o de mais alto mandatário do país: Prefeito Municipal de Juiz de Fora por duas gestões (1967/1971 e 1973/1974), Senador da República em três mandatos (1975/1988 e 2011), Vice-Presidente da República (eleito em 1989), Presidente da República (1992 a 1994), Embaixador do Brasil em Portugal (1995 a 1996), Embaixador do Brasil na OEA - Washington,  EUA (1996 a 1998), Governador de Minas Gerais (1999 a 2002), Embaixador do Brasil na Itália (2003 a 2005).

Jogador de Basquete da equipe do Granbery, nos anos 1940 e Senador da República, em 2011

Transcrevemos aqui os depoimentos de dois jornalistas, publicados pela FOLHA DE S. PAULO no dia 3 de junho.

O REAL É DE ITAMAR

Clóvis Rossi



O Plano Real, aquele que finalmente domou a intratável inflação brasileira, é sempre atribuído a Fernando Henrique Cardoso. Há certa lógica nisso: foi a equipe que FHC montou na Fazenda que, de fato, elaborou o plano e deu início à sua execução.
Contudo é injusto omitir que o presidente da República naquele momento chamava-se Itamar Franco -que, se não leva a glória de tê-lo concebido, merece a homenagem pela coragem de bancar uma ideia ousada.
Quando a presidente Dilma Rousseff escreveu a Fernando Henrique, louvando o seu papel na estabilização da economia, omitiu que esta ocorreu com Itamar Franco e foi mantida pelos seus dois sucessores. É justo, pois, resgatar esse papel, não porque todo morto sempre vira santo, mas porque ele é real, historicamente verdadeiro.
Do meu ponto de vista, vale lembrar outro aspecto relevante: de todos os presidentes com os quais lidei nos 24 anos em que ocupo este espaço, foi o que menos críticas recebeu, mas de longe, de muito longe. Não por condescendência ou por amizade ou qualquer coisa do gênero, mas porque o governo de Itamar Franco produziu poucos escândalos e anomalias, mesmo assim menores.
Conto um episódio singelo para demonstrar, no detalhe, como Itamar Franco respeitava o cargo que ocupou no Planalto. Durante uma cúpula qualquer em Santiago, no Chile, ele não quis participar do almoço tradicional. Foi para o hotel, e lá ficamos os jornalistas no indefectível plantão, esperando uma palavra ou uma saída.
Itamar, de fato, queria sair para ir a um shopping center, mas não queria que o seguíssemos, porque achava que não ficava bem um presidente ser visto - e, acima de tudo, fotografado- em um local comercial, como um turista qualquer.
Coisinha banal, eu sei, mas ilustrativa de uma personalidade singela, presidente por acaso.


ITAMAR, O SUCESSO DO ACASO
Eliane Cantanhêde


Itamar Franco foi o ousado e divertido protagonista de um gesto político antológico deste quarto de século desde a redemocratização. Um gesto exemplar. Presidente por um desses acasos da vida e da política, num momento em que os brasileiros tentavam dividir o mundo entre "os bons" e "os maus" pelo ângulo da ética, Itamar chamou o então senador Antonio Carlos Magalhães em palácio. Queria explicações para o que ele dizia em público contra a honra do ministro Jutahy Magalhães, amigo pessoal de Itamar e inimigo político do lendário ACM na Bahia.
ACM estufou o peito, pôs um bojudo "dossiê" debaixo do braço e lá se foi para o Planalto, pronto para acabar com a carreira política de Jutahy. Abriram-se as portas para a multidão de fotógrafos, espocaram os flashes. E Itamar: "Pode continuar!". ACM, subitamente desnorteado: "Mas com eles aqui?". Sim, com toda a imprensa ali, para expor de vez a tática maliciosa de ACM contra adversários e salvar não apenas a carreira, como a honra e a imagem pública de Jutahy. Não deu outra. A montanha pariu um rato. Aberto o tal "dossiê", o que havia era um punhado de papéis inúteis e cópias de reportagens -da imprensa carlista da Bahia.
Esse era Itamar, um homem simples que se fazia de simplório, às vezes chegado a miudezas, mas também capaz de grandes gestos.
Na Presidência, foi beneficiado pela boa vontade com a transição e por uma sólida aliança que lhe deu sustentação política, dos militares à esquerda (com exceção do PT), na qual reluzia a figura de Fernando Henrique Cardoso. Internamente, apoiou-se na "turma do pão de queijo" -velhos amigos mineiros que se digladiavam pela atenção do presidente e pela capacidade de influenciá-lo.
A leucemia avassaladora o pegou aos 81 anos, em plena forma política. No Senado, mostrou vigor e coragem na crítica responsável e consequente. Já está fazendo falta.