Caros Amigos,
A reportagem da revista Isto É, me fez relembrar o tempo de Juiz de Fora, MG. Tempo de Juiz de Fora, tempos de Granbery.
Testemunha ocular dos fatos iniciais da chamada revolução. Estava eu na rua Halfeld, na frente da Galeria Central, lá pelas 21:00 horas, do dia 31/03/1964 (paquerando as garotas, assim como fazia o João Guimarães) quando tive a oportunidade de presenciar um grupo de aproximadamente trinta ou quarenta pessoas que irrompeu pela galeria e subiu a rua Halfeld cantando o hino nacional meio desafinado. Fiquei sem saber o que estava acontecendo. Perguntei a várias pessoas, mas ninguém sabia ao certo do que se tratava. Só mais tarde pelos noticiários das rádios e jornais, fiquei sabendo que se tratava de um movimento revolucionário, de triste memória, como todo e qualquer regime de força.
No dia seguinte, 01/04/1964, no Granbery todos os alunos estavam gritando: “é Jango, é Jango, é Jango Goulart”.
Eu e Roberto Ferreira da Silva fomos uns dos primeiros a sofrer o constrangimento do regime militar. Estávamos na sacada do segundo andar do dormitório do Granbery, onde morávamos, cantando o refrão, se não me engano lá pelas 14:00 horas, quando dois senhores de branco iam subindo à rua Batista de Oliveira e pararam no portão principal, olharam para cima, acenaram para nós e pediram que descêssemos. Ainda no portão principal o Roberto perguntou do que se tratava. Um deles apontou para mim e disse: “qual o seu nome?”. Eu respondi: ”Orli Vargas Sousa”; o outro fez a mesma pergunta ao Roberto, que respondeu: “Roberto Ferreira da Silva”. Os dois agradeceram e foram embora.
NO DIA SEGUINTE, LOGO CEDO, JÁ CONVOCADOS PELO DIRETOR, DR. AGENOR PEREIRA DE ANDRADE, FOMOS AO GABINETE PARA DARMOS EXPLICAÇÕES. A SEGUIR, NA ASSEMBLÉIA DOS ALUNOS, OUTRO SERMÃO.
Se alguém não leu e quiser ver a reportagem, pode acessar:
http://www.istoe.com.br/reportagens/141566_OS+EVANGELICOS+E+A+DITADURA+MILITAR?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage
Só mais um fato para o texto não ficar demasiado longo. Seguiram-se os anos e continuava o embate ideológico. Na minha turma do Granbery havia um colega bastante revoltado com o sistema e confessadamente de esquerda. Nós dialogávamos com freqüência. Eu sempre fui avesso a qualquer ideologia e aos regimes de força, fossem eles de esquerda, direita, centro ou com qualquer outra conotação, como os que são trasvestidos de democracia, mas perpetuam-se no poder, como aconteceu com o PRI no México. Creio mesmo que a sociedade atual deve encontrar novas formas de se auto-governar, pois o Estado-Nação, fundado nos pressupostos de Montesquieu, Rousseau, entre outros, não responde mais aos anseios do homem moderno.
Mas, voltando ao meu colega de turma. Estávamos conversando sobre o regime e ele enfurecido dizia: “ MAS ORLI, ELES (os militares) TORTURA, MATAM, SEQUESTRAM E IMPEDEM A LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO.”. Ao que respondi: “VOCÊ TEM RAZÃO, MAS ME DIGA UMA COISA: NAS DITADURAS SOLICIALISTAS OU DE ESQUERDA DE CUBA E NA UNIÃO SOVIÉTICA, NÃO ACONTECE O MESMO? QUAL A DIFERENÇA?”, ao que ele, infelizmente, me respondeu: “LÁ É FEITO EM NOME DO POVO” e eu argumentei, meio tripudiando: “QUER DIZER QUE LÁ A TORTURA NÃO DOI E AQUI DOI?...”.
Encerramos a conversa. Ele, apesar da inteligência, saiu pensativo e eu não menos reflexivo.
Recebam todos o meu fraterno abraço.
Recebam todos o meu fraterno abraço.
Orli Vargas Sousa
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