Documento elaborado coletivamente por participantes do Encontro da Associação dos Granberyenses – Setor Sudeste Paulista em 5 de agosto de 2017.
Imagine que você está em um avião, à noite, em um céu
tempestuoso, riscado de relâmpagos que parece vão despedaçar a aeronave. Esta
vai sendo jogada de um lado para o outro e o piloto parece não saber bem o que
fazer. Você é um dos apavorados passageiros e procura ver o que está
acontecendo na cabine de comando. Quase desmaia quando vê que o comandante está
aparentemente tranquilo, alheio ao que ocorre com o avião, enquanto folheia um
periódico de artigos religiosos ou lê uma revista de finanças e negócios, sem
ao menos segurar os aparelhos que controlam o voo! Você cria coragem e
pergunta: “Comandante, o que vai acontecer?” E ouve a estonteante resposta do
risonho e confiante piloto: “Não sei, nunca me disseram bem para o que servem
estas alavancas, estes botões, estes mostradores que existem nesta cabina! Mas
confio em Deus que haveremos de chegar ao destino!”
Você corre para o meio dos passageiros! Os olhos de um
grande grupo deles estão tão esbugalhados como os seus. Essas pessoas estão
presas a seus cintos de segurança, e numa enorme ansiedade! Outros passageiros,
porém, estão brincando com os seus aparelhinhos eletrônicos. Ainda outros estão
dormindo, sem perceber o risco que todo mundo está correndo, acreditando que o
piloto sabe o que faz. E o avião segue sem perceber o imenso pico da montanha
em cuja direção ele vai…
Faz três ou quatro anos, um dos atuais líderes da Igreja
Metodista, advertido acerca de equívocos graves que estaria cometendo em suas
atitudes para com as instituições de educação, respondeu à advertência: “vocês,
que conhecem a história da Igreja, é que precisam explicar para a gente o lugar
das escolas na denominação”. É como se o comandante do tal avião desgovernado em
meio à tempestade, dissesse ao passageiro que entrara assustado na cabina:
“Vocês é que precisam me dizer como se faz para pilotar o avião!” Como foi que
este indivíduo conseguiu a autorização para voar? Como foi que uma pessoa
chegou a ser líder de destaque na Igreja Metodista, desconhecendo toda a
história da denominação no campo da educação? Dá para entender?
De fato, não dá para entender isto em todos os detalhes,
mas é possível levantar algumas tentativas de explicação, muito necessárias
nestes tempos em que o metodismo brasileiro atravessa tempestades tão graves
como a do avião perdido na noite! São momentos em que escolas estão a pique de
serem fechadas, em que pipocam greves para lá e para cá, em que professores são
sumariamente demitidos, em que líderes são “solicitados” a renunciar a seus
cargos, em que cursos são fechados porque não seduzem um maior número de alunos
pagantes, em que uma herança educacional identificada com os valores mais
sagrados da educação – muitos deles fundados em valores evangélicos e na
história wesleyana – são jogados às traças. Esses valores foram trocados por
uma “filosofia” neoliberal, em que a educação deixa de ser uma força formadora
da personalidade e é substituída por uma “mercadoria” a ser negociada e vendida
aos que por ela podem pagar. Na cabina do piloto uma entidade impessoal, uma
rede que só vê o imediato, vai apertando os botões a esmo, puxando o manche
para lá e para cá, acreditando que enxerga para além da tempestade. Ela fecha
seus olhos para um passado construído na história de um metodismo mais que
bicentenário, após haver praticamente desmantelado um Conselho Geral de
Instituições Metodistas de Ensino de cujo nome – COGEIME – se aproveita apenas
como marca comercial, e joga no lixo as Diretrizes para a Educação na Igreja
Metodista aprovadas pelo próprio Concílio Geral desta! Ela administra este
assunto sem perceber que as instituições metodistas brasileiras não podem
ignorar as mais de mil outras escolas, faculdades, universidades do metodismo
ligadas à ALAIME e à IAMSCU e que o que lhes acontece tem repercussão
continental e global! Sem atentar para a história das instituições, ela trata
de “pasteurizá-las” sem respeitar, em nome de uma pretensa economia de
recursos, a identidade e a cultura de cada uma delas!
É o caso de se perguntar: será que ela desconhece mesmo o
panorama ou tem outros projetos maléficos, mal intencionados, jogados com
cartas marcadas e viciadas? Será que aquela velha estratégia do quanto pior
tanto melhor não está por trás de tudo isto?
Em uma situação como esta os líderes das instituições não
precisam mais ser educadores: basta que sejam tecnocratas capazes de vender
algo aparentemente bom por um preço reduzido, definido pelos interesses
mercadológicos, em que professores sejam contratados pelos salários mais
reduzidos e os preços das anuidades sejam os mais altos e competitivos
possíveis. Porque – sem esconder a ironia! – de fato, é preciso levar a sério
as grandes empresas que hoje atuam no campo da educação e que acabariam
engolindo as instituições metodistas.
Mas, amigos, e os pobres passageiros que se acomodam nas
poltronas do avião, despercebidos do que está ocorrendo e do que vai acontecer?
Como foi que eles entraram nessa situação?
Explica-se: não disseram a eles e elas, quando foram
recebidos como membros da Igreja Metodista, que essa Igreja (e algumas outras
na mesma linha) tinha um caráter próprio, que para ela a educação faz parte de
sua missão, que educação não é isca para a evangelização… Disseram-lhes apenas
que para ser metodista basta cantar louvores no culto, contribuir
financeiramente, bater palmas, dizer “Amém” em voz alta, que está tudo bem! O
Senhor está por cima! Ele dirige a sua Igreja. Era importante fazer inchar a
Igreja, para que ela concorresse com as outras denominações e não ficasse
parecendo “atrasada” em relação às demais…
Aliás, foram esses mesmos “novos metodistas” que acabaram
elegendo alguns dos novos “comandantes”, agora assentados na cabina de comando
e estão lá, perdidos, olhando todos aqueles botões, alavancas, mostradores, e
vão lendo as revistas de artigos religiosos e fazendo orações interiores –
especialmente ao Deus mercado – sem a coragem de confessar que nada entendem da
tarefa pela qual pretendem ser os responsáveis!
Mas olhem lá, olhem bem! Depois daquela nuvem escura,
após aquela área onde os relâmpagos e raios se cruzam ferozmente, logo ali,
está o pico da montanha! E o avião avança, planando, nas mãos de uma entidade
fantasma que pensa segurar os controles do leme…
Haverá algum futuro para a educação em uma Igreja
Metodista que perdeu (quase) totalmente sua visão do passado e sua perspectiva
para o amanhã? E o educador João Wesley? Ora, João Wesley! Parece para esta
gente que ele precisa ser esquecido!
Será
que não é absolutamente urgente, indispensável, que os metodistas provoquem um
congresso denominacional acerca de sua visão da educação e a tarefa que lhes
está confiada como parte de sua missão cristã? Afinal, nossa preocupação
precisa estar afinada com o movimento profético, que se caracterizou pela
defesa do direito das pessoas à margem da sociedade, aquelas que não podem
pagar por uma educação comprometida com os interesses do mercado! (PE)
Susana
Fernandes Ribeiro Maia
Presidente
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Sérgio
Marcus Pinto Lopes
Vice-Presidente
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