quarta-feira, 22 de junho de 2011

A imprevisibilidade da vida

             Tenho pensado na imensa imprevisibilidade da vida e concluído que noventa por cento dela não se faz dentro dos planos que traçamos e dez por cento puramente acontece ao acaso.
            Constatei para meu espanto, aliás, confortador, que não vivemos a vida que escolhemos e construímos ao longo de nossa existência, desde a nossa tenra infância, mas a que herdamos.
            Rigorosamente somos um pouco de cada um dos muitos com os quais convivemos e quase sempre são estas informações que delineiam nossos caminhos tortuosos.
            Talvez seja em função destes aspectos que Edgar Morin, brilhante pensador francês, aponte-nos os sete buracos negros da educação afirmando que “incerteza é o novo nome do futuro” e esclarece “que a morte é a única coisa certa de nossa vida, mesmo assim imprevisível porque não sabemos a sua hora”.
            Este fenômeno não se dá por falha humana, mas pela imprevisibilidade existente em nosso próprio universo. Basta pensarmos em nosso moribundo planeta que a cada momento nos surpreende com uma instabilidade através de vulcões, terremotos, maremotos, ciclones e fenômenos mais violentos como os dois últimos terremotos.          
            Não imagino que haja ciência mais planejada do que a Economia e também se pode perceber que não há outra ciência onde os buracos e os equívocos têm sido tão vivenciados, a ponto de nos deixar problemas sólidos tão graves, crises quase irreversíveis que penetraram a humanidade inteira.
            Poderia meu leitor indagar - que diferença faz esta constatação? Para mim muito grande, principalmente no que se refere à educação, que tentamos impor aos nossos alunos, dentro do conhecimento moderno que sempre procuramos oferecer, falsas certezas que não se realizaram, investindo sempre nas respostas afirmativas.
            Precisamos passar aos nossos alunos as orientações para conviverem com as imprevisões para aprender lidar com o provisório e  escapar de  pensar a vida como plenamente planejada e retilínea.
            Nossos programas educacionais em sua quase totalidade têm se preocupado por oferecer uma educação bancária, que permite aos educandos, se eles assimilarem falsas certezas, a possibilidade de alcançarem plena estabilidade.
            Rigorosamente isto constitui uma mentira, visto que a instabilidade se encontra na estrutura universal e não somente em nós.
            Creio já ser tempo de parar de ensinar que nosso universo é máquina perfeita e instável em que se pode confiar, por ser imutável e absolutamente previsível, quando de fato ele mesmo é um turbilhão que nos envolve em seu caráter dinâmico e sempre mutável.
            Posso estar sendo repetitivo, e creio que estou, mas quero insistir no caráter incerto da vida, incerteza que não resulta de nossas limitações mas da própria estrutura do universo e que, para tanto, nossa educação deveria se voltar para dar aos alunos uma educação que o prepare para a adequada convivência com as incertezas.
            O incerto é o novo nome do futuro.
Elias Boaventura, junho de 2011

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