quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

As lições do professor Elias Boaventura

Elias é mais um granberyense notável transferido para a Igreja Triunfante, em sete de janeiro de 2012, mas como humanos e seus admiradores, a tristeza de não mais vê-lo é muito grande: "as pessoas não morrem, apenas deixam de ser vistas" (Nundes [Fernando Pessoa]). O que nos consola é saber que "... Jesus Cristo não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho" (2 Tm 1.10).
Apaixonado por sua "alma mater", Trombone, seu apelido entre os puritanos (candidatos à formação teológica no Granbery), aprendeu com o querido e controverso comunista prof. Irineu Guimarães, mas também com Mr. Moore, adepto do socialismo cristão, a defender a causa dos empobrecidos, dos mais fracos, dos marginalizados. Ele não encolhia a mão quando se tratava de apoiar alguém financeiramente ou até mesmo como avalista o que lhe causou vários prejuízos financeiros.
Solidário e defensor do cristianismo prático, como dizia Irineu, gostava de estar com as pessoas que costumava acolher em sua casa planejada e construída para receber os amigos, os granberyenses, os membros de seu partido político. Sylvana, sua esposa cuidadora e anfitriã perfeita, o apoiava incansavelmente nesse "ministério". Seriam as nossas casas o reflexo de nossas vidas?
Cumpriu dois mandados como reitor da UNIMEP (1978/1986) em um período em que o processo de transição político-social do país flutuava em distintas etapas: a definição do papel do Estado, novos partidos políticos, as Diretas Já. A ojeriza pelo socialismo era bastante forte.
Simples, mas ousado e sem temor, declarava-se socialista a quem quisesse ouvir: em plena sessão plenária em concílio da 5a. Região Eclesiástica da Igreja Metodista (nos anos 80, em sua saudação como reitor, no Auditório Verde da UNIMEP) e até mesmo na fundação do Setor Sudeste Paulista da Associação dos Granberyenses, no átrio da Biblioteca da UNIMEP (década de 1990).
Aberto ao diálogo, o reitor Elias costumava se reunir às segundas-feiras com a liderança da Universidade para conversar sobre questões institucionais e suas relações com a Igreja Metodista. Certa feita, numa clara demonstração de seu humanismo e empatia, leia-se – cristianismo prático - pediu ao grupo que tivesse complacência com um de seus assessores que passava por sério problema familiar. O comportamento ético exige de cada um o compromisso de colocar-se no lugar do outro.
A proposta dialógica de Elias é defendida por Habermas (1989) para quem o indivíduo atribui um sentido às suas ações e, graças à linguagem, é capaz de comunicar percepções e desejos, intenções, expectativas e pensamentos. O autor vislumbra a possibilidade de que, por meio do diálogo, o ser humano possa deixar de ser objeto para retomar o seu papel de sujeito.
Elias estimulou a criação da Associação dos Funcionários do Instituto Educacional Piracicabano (AFIEP), pois os docentes já estavam organizados. Ademais, contribuiu com suas palavras, atos e procedimentos para a institucionalização organizacional, imprescindível à estabilidade do processo participativo e democrático na construção cultural da UNIMEP: “os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo paradigmas inscritos culturalmente neles” (Morin, 2000, p.25).
Pena que poucos aprenderam com o professor Elias a lição de que são as pessoas que constroem a história organizacional. Portanto, elas merecem todo o respeito e não devem ser tratadas como meros recursos ou como um dos itens da planilha de custos, o primeiro a ser cortado nas crises financeiras.
Elias não foi bem compreendido no exercício de seu pastorado e nem como reitor da UNIMEP. Ultimamente, sentia-se desvalorizado e triste.
Doente e cansado, não se deu conta de que as organizações somente valorizam as pessoas enquanto são produtivas; quando deixam de produzir ou deixam de ser úteis, são descartadas sumária e impiedosamente. É uma profunda negação dos valores humanos.
Fala-se muito em descobrir talentos, reter talentos, mas no fundo as organizações continuam a achar que os profissionais são peças de reposição: quando sai um, basta substituí-lo por outro. Mas quem irá substituir Elias Boaventura? Quem substituiu João Wesley? Mr. Moore? Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Santos Dumont? Monteiro Lobato? Jorge Amado? Pelé? Allbert Einstein? Picasso?
Termino com a última estrofe da poesia “Agora”, de Myrthes Mathias:
Se queres me fazer feliz, faze-me agora.
Para que chorar de remorso e saudade?
Custa tão pouco a felicidade,
Dá-me uma flor antes que eu vá embora!


Granberyensemente,
Arsênio Firmino de Novaes Netto

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