sexta-feira, 7 de maio de 2010

Granbery - 120 anos

Elias Boaventura
Julho/2009

Tenho convivido com inúmeras instituições escolares em todos os níveis de ensino: umas estatais, algumas comunitárias, além de muitas confessionais; mas entre elas, não encontrei nenhuma mais amada que o Instituto Granbery, localizado em Juiz de Fora.Há nos ex-alunos do Granbery, que não se consideram em hipótese alguma, ex-granberyenses, uma extraordinária força de pertencimento, que sobrevive até os nossos dias.
Este pertencimento pode ser verificado ainda em tempos recentes na força da Associação Nacional dos Granberyenses, formada por ex-alunos e que atua por intermédio de seus muitos núcleos no País, pelas visitas que o Colégio recebeu de alunos formados há mais de meio século como Odilon Nogueira de Matos, Moacir Borges, Messias Amaral dos Santos – o Papinha (já falecidos); e tantos outros que ainda hoje não deixam de visitá-lo como o ex-presidente Itamar Franco e Vanda Morais de Almeida, formados há mais de meio século; e que, ainda, freqüentam suas reuniões.
Este sentimento, preexistente ao próprio Granbery, manifesta-se de modo mais forte no “Espírito Granberyense”, mais claramente explicitado por Mr. Moore, Reitor muito amado, que o revelava plenamente pelo seu modo de ser e agir.
Estudiosos da “Casa” têm mencionado as dificuldades de explicar o fenômeno, mas arriscam a menção de fatores responsáveis por ele; entretanto tentam responder a questão. Por que o Colégio se fez tão amado? De onde vem este extraordinário pertencimento?
Em primeiro lugar consideram o forte internato, que funcionou por mais de meio século como grande família alternativa. Neste internato a Direção se fazia muito amorosa, cuidando dos alunos e; mais tarde, das alunas, como filhos e filhas.
Nele todas as atividades eram regidas pelo badalar do sino, que como dizia seu hino “... aqui dirige todos, pensando que é Reitor”.
Por outro lado fortaleceu o pertencimento a existência de um corpo docente muito bem preparado, residente no “campus” e cercanias, contratado em tempo completo, que operava como orientador permanente dos alunos.
Estes professores, que lecionavam na parte da manhã, muitos deles permaneciam à tarde, facilitando ao extremo as conversações com os internos, que saudosos, ainda hoje mencionam figuras como Martha Waltemberg, Agenor Pereira de Andrade, Nilo Ayupe, Irineu Guimarães, Paulo Henriques, Irene Montes, bem como tantos outros, não menos notáveis, nem menos amados.
Além deste fator muito forte ocorriam iniciativas extra-classe, que divulgavam os fundamentos inspiradores das ações, provocavam o congraçamento dos participantes e o desenvolvimento da criatividade.
Nestas atividades merecem destaque os animados grêmios literários, o escotismo, a associação teatral orientada por Irene Montes e as assembléias diárias com os estudantes, sempre muito inspiradoras e zelosamente trabalhadas pela Direção.
O Granbery funcionava de fato como uma pequena cidade em que os alunos usavam talões de cheques internos oferecidos pelo Colégio, fazendo suas compras normalmente como se faz no mercado.
De todas estas atividades, a vida esportiva, mais acentuada à tarde, ocasião em que o “campus”, com seus muitos campos de futebol e quadras se transformava em uma movimentadíssima praça de esporte com a prática das mais variadas modalidades esportivas.
As atividades do Granbery eram todas encimadas por chamativos slogans, como “Verdade e Perfeição”, “Mens sana in corpore sano”, “granberyenses não vaiam”, “ordem é progresso”, etc.
Os granberyenses da época se orgulhavam de frequentar uma escola alegre onde se tentava viver liberdade com responsabilidade, onde com voz embargada contavam o Hino Granberyense, o G de Ouro, O Sino Granberyense, e muitas outras canções.
Embora a instituição fosse marcadamente confessional os alunos gozavam de completa liberdade religiosa, recebendo incentivo para freqüentar as igrejas a que pertenciam..
É por tudo isto que em todos nós que passamos pelo “Gigante Branco”, mora uma doida saudade, que até agora nos faz chorar de alegria, provoca arrepios e uma vontade enorme de reviver tudo outra vez e cantar em alto e bom som suas belas e proféticas canções, que apesar dos longos anos, até hoje fazem sentido, como o hino do Sino Granberyense que diz:
“Quando um dia terminado,
Nosso estudo feito aqui.
Sino bom, quanta saudade,
Quanta saudade de ti!
Todo dia, sem cessar,
Sem jamais me fatigar,
Hei de sentir a falta,
Das vezes que te ouvi.”
Pois é meu Sino! Neste momento em que escrevo, sinto a tua ausência que dói demais. Recuso-me a ser ex-granberyense e até mesmo ex-aluno.
Saí do Granbery, mas Ele nunca saiu de mim. Sinto que a ele pertenço e me transformei em um profundo poço de saudades.

Elias Boaventura é granberyense e foi Reitor da UNIMEP (1978/1986)

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